Iluminação Cênica: 23 mitos 'desmistificados'

Ser-Luz, este assunto da postagem é algo que há alguns anos ouço na carreira da Iluminação Cênica.

É um conjunto de questões, que mesmo passando anos, ainda ouço, então resolvi criar especialmente para registrar em meu blog.

Não leve a mal o que direi, apenas tenho o interesse em ensinar corretamente sobre as questões da Iluminação Cênica, de toda essa pesquisa que realizo há mais de 17 anos por conta própria, sem estar preso a regras institucionais, ou ideais de “gurus do ramo”.

Não que eu não os admire, pelo contrário, tenho neles grandes referências, porém eu optei por seguir de maneira independente, correndo atrás de informações, buscando o conhecimento técnico e teórico, não apenas aceitar o achismo ou engolir algo como uma verdade absoluta (que a única verdade é que não existe verdade).

Bem, mas abaixo lista uma pesquisa que realizo há anos, de perguntas e questões que, algumas, parecem terem se tornado um axioma, porém as trago aqui para que possamos enxergar a Iluminação Cênica com outras vertentes.

Quaisquer dúvidas, só me chamar.

 

1 – Tecnologia é tudo!

Não, as tecnologias (Instrumentos de iluminação mais tradicionais ou robóticos, fontes de luz em dispositivos eletrônicos – LED, softwares) são apenas as ferramentas que nos auxiliam na criação, geralmente – até onde sei – elas não são pensantes.

 

2 – Usar a cor verde no jardim ajuda a melhorar a ambientação com as plantas.

Isso é algo que é temoroso, você chega num evento e não sei quem inventou de colocar a cor verde num posição que ilumina o jardim todo, é algo horrível; interessante é mesclar a cor verde e uma branca, ou se for LED RGBW busque cores que realcem o jardim, não que sumam com ele.

 

3 – Na dança é obrigatório a iluminação lateral.

Imagina só, o corpo no espaço (na maioria das vezes) é algo tridimensional, como o próprio nome diz, é visto em 3 dimensões, como conseguirei vê-lo nitidamente caso só tenha a iluminação lateral? Então é preciso conhecer os efeitos em iluminação de vários ângulos, e o mais importante o que se quer e o por que do uso em determinado ângulo.

 

4 – Uso do termo “canhão” para qualquer instrumento de Iluminação de Palco.

Essa é clássica, “canhão e spot” são os campões no quesito em demonstrar a falta do conhecimento e terminologia técnica para referir-se aos instrumentos de iluminação para palco, o único canhão que temos é o “seguidor”, spot é um tipo de luminária usado em residências e se for traduzido é algo como “ponto” (com referência ao seu ângulo de abertura, geralmente muito estreito)..

 

5 – Um espetáculo de tragédia não pode ter “luz colorida”.

Já ouvi isso diversas vezes, que a tragédia tem que ser feita com iluminação em baixa intensidade e cheia de sombras, além de dizer que é  isso é conceitual. Bem, se você quiser que seu público adormeça durante o espetáculo é a melhor saída, mas se você for esperto e ter estudado cores, poderá fazer uso de tons que possam compor a visualidade de maneira a interagir com o que está sendo iluminado. Poderá usar sem problema algum as cores, mas claro, com cuidado para não virar um carnaval.

 

6 – O diretor é quem diz sobre qual luz usar.

A responsabilidade do diretor, quando não é o iluminador, é passar o máximo de detalhes e informações ao profissional que ele convidar a iluminar o espetáculo, o profissional em iluminação será o responsável pelo visual juntamente com o diretor.

 

7 – Produtores não precisam aprender sobre iluminação.

Bem, dizer isso é como dizer que vai fritar um ovo com uma gota de óleo somente para fazer ovos mexidos, ou seja, tem que entender pelo menos o básico para saber que um espetáculo precisa de um profissional que estude o visual e interprete através de um projeto de iluminação.

 

8 – Um artista de verdade não precisa de luz.

Beleza… então deixa ele no escuro executando a sua obra de 2 horas (que geralmente quem diz isso adora dizer que faz teatro conceitual), então crie um espetáculo totalmente em BO, sem pagar iluminador, aliás não precisará contratar mais nenhum outro artista.

 

9 – O LED não serve para o teatro.

Assim como o artista desafinado pode cantar ao vivo sem passar pelo ProTools ou demais softwares (eu já vi esse uso com artistas renomados).

 

10 – A luz quente é para o teatro e a luz fria é para os estúdios.

Adoraria saber de onde veio essa tese e em que está embasada. Tenho certeza que quem diz isso talvez não tenha conhecimento que as fontes de luz servem para serem utilizadas em qualquer lugar e onde precisar, por isso o iluminador, ao criar um projeto, deverá ter noção de fontes de luz e entender um sobre luminotécnica.

 

11 – Para criar em iluminação não preciso entender sobre artes visuais.

Os maiores pesquisadores da linguagem visual são os artistas visuais. Se esse conhecimento não servir para nada, realmente não sei onde buscar fontes de estudo e aprimoramento do uso das cores, formas e direções, fatores básicos do desenho para compor um espaço.

 

12 – O console que está na moda é o melhor de todos.

Claro que se você não entender que o console é apenas o meio e não os fins, ou até mesmo for o dono da importadora deste produto ou da locadora (que paga muito caro pela modernidade e atualização de instrumentos), com certeza terá essa argumentação.

 

13 – Para dar um destaque preciso usar foco.

Não necessariamente, para que haja um destaque é necessário o contraste somente, que poderá ser feito com atribuições visuais com cores, intensidade, ou qualquer outro fator que tira a atenção de um ponto e esteja em outro lugar.

 

14 – A iluminação conceitual é a “iluminação verdadeira”.

Vichi, esse “conceito” dá medo. Quando alguém diz isso é porque não tem ideia do que é iluminar. Um projeto de iluminação é composto por diversas variantes e variáveis que podem ser modificadas em seu percurso até a finalização de um projeto. Portanto, a parte conceitual ela deve estar presente mas é apenas uma das partes e não o todo dela.

 

15 – A operação no teatro tem que ser toda manual.

Outro caso parecido com “a luz conceitual – 14”, quem diz isso talvez nunca tenha trabalhado, ou tem preguiça de aprender e se modernizar. O recursos nos consoles servem para serem utilizados, o recurso do cue é para auxiliar o desempenho de uma operação mais precisa e com mais detalhes a serem apresentados durante uma cena, Lembrando que o cue pode ser com tempo ou não, cabendo ao operador de iluminação do espetáculo decidir o que for melhor.

 

16 – Compro um LED pela sua potência (Watts).

Parabéns a você, isso mostra que não entendeu ainda que a Watagem (potência do gasto consumido em Watts) deve estar relacionado ao fluxo luminoso (geralmente mensurado em Lúmens) que dará a qualidade de quantidade de luz de uma determinada fonte.

 

17 – Para criar em iluminação não preciso me aprimorar, sigo meu instinto.

Claro, assim como também você parou no tempo e acha que fazer espetáculos à luz de velas é uma inovação e criação. Caso siga somente seus instintos para iluminar, sua iluminação será sempre igual, não terá a ousadia de criar e usar algum instrumento novo.

 

18 – Meu “mapa de luz” não tem como ser adaptado a outro espaço.

Assim como você não deveria nem estar na profissão.

 

19 – Não se usa a lâmpada PAR no teatro, porque é muito “forte”.

As fontes de luz existem para serem utilizadas, agora se você não gosta da lâmpada PAR pelo brilho e intensidade luminosa dela é outra história. Aprenda que para as lâmpadas de filamento existem uma série de filtros que servem para controle da polarização da luz, ajudará nesse controle de brilho de fontes de luz cuja lâmpada é uma sealed beam.

 

20 – Só uso elipsoidal 26º e 36º e não preciso calcular, já sei tudo.

É a mesma coisa que chegar num restaurante oriental e pedir comida alemã. O uso de cálculos luminotécnicos servem para serem utilizados, cansei de ver profissional que pede um determinado instrumento Elipsoidal porque está acostumado e se esquece de ver a relação “abertura de ângulo e altura de incidência do objeto”. Por isso é necessário ter a noção de física para que não ocorram confusões nessa solicitação.

 

21 – Mandar fazer gobo é caro!

Mas para pagar o diretor e elenco ruim, a companhia tem grana. Isso é algo sério, por isso quando me contratam para criar um projeto em Iluminação Cênica e utilizo gobo, já incluo em meu projeto, para não ouvir essas besterias da produção.

 

22 – Luz de show não precisa de conceito.

Conceito é pensar numa argumentação, é praticamente impossível você criar algo sem relacionar uma determinada cor a alguma ação, ou mesmo o ângulo que pretende trabalhar sem nenhum sentido. Portanto, é errado dizer que o profissional “não cria conceito”.

 

23 – A luz é a arte mais importante num espetáculo.

Um artista ou iluminador prepotente não chega muito longe. A iluminação é apenas uma das partes que compõem um projeto de espetáculo, se ela é importante ou não cabe a quem a ver decidir, de acordo com o que realmente percebe numa determinada demonstração artística.

 

Ufa, sei que é muita informação, mas é necessário tocar nesses assuntos, somos profissionais e temos que encarar de frente muitas questões para que cresçamos cada vez mais em nossa carreira na Iluminação Cênica.

 

Brindes especiais do post

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Agora poderá ouvir o Podcast do “Cartilha de Iluminação Cênica”, ouça no link abaixo:

BORA ILUMINAR O MUNDO!!!


 

Iluminação Cênica Alessandro Azuos

 

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